Monday, August 9, 2010

Um dia mais...

Hoje, finalmente, fomos fazer uma nova mamografia...em busca dos tumores presentes, mas nao mais aparentes.

Depois de quase tres horas de espera, me chamaram para traduzir os resultados da mamografia. Um jovem medico veio ao meu encontro na sala de espera do departamento de tratamento do seio do Parkland Hospital. A minha mae ja' havia entrado ha' mais de 1 hora...eles haviam prometido que, se houvesse necessidade, eles me chamariam. E assim foi!

Encontrei a minha mae numa sala escura onde outros medicos manuseavam visores digitais e interpretavam imagens. E eu o medico nos juntamos a ela. O medico havia dividido a tela digital em duas partes, uma que mostrava as mamografias anteriores e as de hoje. Desta vez achei as imagens mais confusas em comparacao a minha lembranca das anteriores, porem logo reconheci aquele formato estranho...aquela "virgula expectral". O medico, muito educadamente explicou que os tumores ainda estavam la', que haviam, na sua maioria diminuido em umas partes, mas crescido em outras. Naquele momento, so' pude traduzir parte da conversa, pois eu mesmo estava confuso. O medico explicou que o tumor havia perdido densidade, por isso se tornara dificil de ser detectado de maneira tactil. E que, inclusive, o tumor que estava debaixo do braco esquerdo, havia desaparecido por completo. O medico disse que, positivamente, o cancer estava respondendo ao tratamento. Ou seja, havia progresso. Pedi para ele dar numeros, porcentagem ao progresso. E ele respondeu que considerava uma melhora de 30 a 50%.

Para mim, eram boas noticias, mas a minha mae nao percebeu desta maneira. Ela so' queria saber se o cancer ainda estava la' e porque, se ela ja' nao sentia mais os vultos. Tentei explicar, mas ela nao queria ouvir. Chorou. Para ela, tudo que queria ouvir e' que nao havia mais nada nos seios. Ela estava se decepcionando. Na sua maneira de pensar, seu cancer estava com os dias contados e brevemente ela arrumaria suas malas e partiria rumo ao Brasil para rever seu neto, sua casa, seus filhos...amigos. Na sua maneira de pensar, nao havia duvidas...o fato de nao poder mais sentir o cancer era sinal de melhora absoluta e nao parcial.

Tudo se complicou ainda mais quando eu pedi para ver o resultado da tumografia anterior que ela havia tirado na sala de emergencia do hospital a pouco mais de uma semana atras, que eu nunca havia tido a chance de examinar pessoalmente. Essa tumografia revelou que os conhecidos tumores havia diminuido, mas ao mesmo tempo revelou que apareceram outros, ou pelo menos um de 4 milimetros na regiao toraxica junto a vertebra numero 11. Alias a tumografia revelou que ha' tumores, ou lesoes, como eles chamam, junto as vertebras 9, 10 e 11, e na regiao lombar junto a vertebra numero 1. A tumografia tambem revelou que ha' uma serie de pequenos nodulos nos pulmoes que devem ser vigiados devido ao estado clinico do paciente, mas nao revela tumor ou massa sequer.

Essa parte deixou a minha mae ainda mais desorientada...fez com que ela esquecesse toda a melhora aparente e se concentrasse apenas na parte ma' da noticia. Apartir dai' foi um furacao de emocoes, que culminou me atirando na cara a demora do diagnostico. Agora a culpa era minha por ter demorado tanto em leva-la ao medico quando ela primeiramente comecou a se queixar das dores na costela desde novembro passado. Agora, se nao havia melhora, ela queria voltar ao Brasil. Chorou varias vezes...se recusou falar com a minha irma, se trancou no quarto o dia inteiro!

Notei que ela nao tem tomado o anti-depressivo. Me queixei, mas ela argumenta que os remedios nao lhe estam fazendo efeito que, "...o que adianta se os tumores do peito estao diminuindo se os demais estao se multiplicando..."

Agora mesmo, eu nao sei o que lhe dizer...ela nao me escuta. Ou melhor, se recusa a me escutar. Sem se expressar desta maneira, ela parece apenas querer ir para o Brasil e experimentar o tal xarope de babosa que, segundo ela, lhe ajudaria.

Sinceramente, por mais que me doa, eu ja' nao tenho mais argumentos. Ela esta' lucida, em pleno uso das suas faculdades mentais e eu nao lhe posso forcar a medicar-se e muito menos permanecer aqui contra a sua vontade. Ela parece querer ir, mas porque todos lhe aconselham o contrario, ela se sente culpada em manifestar-se. Da mesma maneira que eu me sinto culpado em lhe incentivar a ir. Como poderia eu?

Decidi que vou esperar a "poeira" baixar, e ter uma conversa clara e franca com ela, e lhe perguntar o que ela realmente quer fazer...pois ela me faz sentir muito mal, como se eu estivesse lhe obrigando a se tratar contra a sua propria vontade...Agora, tudo que ela quer e' tranferir a culpa para outro. Como ja' disse antes, hoje ela ja' me culpou do cancer (a minha demora em leva-la ao hospital para descobrir a doenca!). E eu estou genuinamente cansado, esgotado com tudo isso. Tentarei, uma vez, envolver meus irmaos nessa decisao e ver o que podemos fazer, pois eu ja' nao tenho argumentos, nem sei mais o que lhe dizer sem que ela consiga deviar para um lado imaginario. Nem sei mesmo se alguma vez sucedi em lhe explicar o que e' cancer, pois ela, com certeza, ainda nao entendeu a gravidade e a extencao dessa doenca e realmente acreditava que, depois de 5 meses de tratamento, estaria completamente curada e esta' verdadeiramente desapontada porque nao aconteceu assim. E., como tudo que eu falo, ela tem que discordar, e' uma luta que eu nao posso vencer.

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