Sunday, August 1, 2010

Nao aparente, mas presente!

Ontem foi um dia complicado!

Depois de passear com os meus cachorros, encontrei a minha mae chorando no patio. Dizia sentir dores desde as 4 da manha. Descrevia as dores como uma sensacao de aperto no abdomem, abaixo do seio esquerdo, onde estava inchado e duro. Ela cogitou a possibilidade do cancer ter se espalhado para aquela area...insistiu que a agua estava lhe causando as dores e sensacoes de vomito...

Para falar a verdade, nao tive muita paciencia em lidar com o quadro...fui taxativo em defender a agua e me recusei a ter isso mesmo em consideracao. Insisti em levar-le ao hospital. Ela recusou e recusou inumeras vezes depois. Me frustrei. Conversei com a minha irma por muito tempo e varias vezes, tentando dividir minhas frustracoes. No meu ver, a minha mae quer mais atencao e mais carinho que eu sou incapaz de oferecer, ate' por que tenho que trabalhar para sustentar todos os gastos que o cancer exige...nem pouco tempo para ficar em casa, o pais esta' em crise...ha' que fazer mais e ganhar menos para sobreviver...

Bem, sao essas todas as desculpas reais que eu nao tenho como fugir. Simplesmente, nao posso estar em casa tratando a minha mae como se fosse uma crianca de 2 anos. No momento, so' posso trata-la como um adulto que deve estar ciente que tem uma doenca grave e que apenas pode ser tratada dentro de certas condicoes e que deveria entender que eu estou tentando o possivel e impossivel para propriciar este tratamento que eu creio que ela jamais teria acesso em qualquer outro lugar do mundo. Simplesmente, eu nao posso oferecer mais! Nao tenho como!

Tambem conversei com uma amiga que e' psicologa e que me ajudou muito. Ela me relembrou da dinamica do relacionamento que eu agora tenho com a minha mae, que agora eu, mesmo que, por boa vontade, cheio de amor, estou lhe tratando como um pai severo por que escolho o que ela deve comer, como deve comer, o que deve beber, como deve beber, e ate' que vicios deve manter...e que, para um adulto, isso e' uma especie de invasao, crueldade benefica que nem todo mundo sabe bem como lidar. Minha amiga psicologa sugeriu que eu envolvesse mais a minha mae nas decisoes do tratamento, mesmo tendo em consideracao que ela nao entende e/ou se interessa minimamente por esse assunto. A minha mae entenderia muito pouco de divisao celular, sistema imonologico ou PH! Mas nenhum desses "detalhes" deveria ser importante, apenas o involvimento ja' bastaria.

Sim, ate' agora, eu simplesmente acho a imformacao, pesquizo, recolho opinioes e acrescento ou nao o suplemento alimentar na dieta da minha mae, sem mesmo lhe consultar, ate' porque sei bem que ela nao entende do assunto e parto do principio que ela entende que eu quero o melhor para ela. Mas, infelizmente, isso nao tem funcionado. De vez em quando, ela procura meios de discordar ou encontrar defeitos em certas comidas, certos suplementos...e agora, mais recentemente, a agua.

A minha amiga psicologa tambem acha que a carencia da minha minha mae esta' actuando fortemente no comportamento dela. A minha mae sente falta do resto da familia, dos seus amigos, sua casa, seu entorno, seu neto e etc. O que eu entendo. E, como eu nao estou presente para preencher essas lacunas, ela se frustra.

Ontem, seria meu dia de folga, mas porque as coisas tem andado tao fracas por aqui, eu me ofereci para trabalhar e fazer algumas horas extras - mas a minha mae nao sabia! Pois e'...ela ficou doente, mas nao posso assumir qye foi intencional ou consciente.

La' pelas 3 da tarde, depois de longa conversa com a minha amiga psicologa e minha irma, mudei minha "tactica": fui ao quarto da minha mae e lhe perguntei o que deveriamos fazer, pois ela estava sentindo dores, nao queria tomar remedios e nao queria ir ao hospital. Perguntei a ela: "O que a senhora quer fazer?" Relutantemente, pois nem falar ela queria, era como se a dor tivesse atingido suas cordas vocais, ela disse que queria ir ao hospital.

A caminho do emergencia do Parkland hospital em Dallas, notei que ela parecia estar melhor, mas mesmo assim comecei a fazer planos para a noite que me esperava. Contactei amigos e a minha companheira e esperava que eles me ajudassem a conciliar o turno da noite que me esperava no trabalho e a jornada de emergencia do Parkland. Mas, de repente, a minha mente clareou, e eu sabia que a jornada na sala de emergencia levaria horas...horas esperando a bateria de exames, sem muita coisa acontecendo durante o intervalo. Lembrei que eles teriam interpretes e achei uma boa ideia deixar a minha mae ouvir literalmente dos medicos sem que eu estivesse presente. Quando tudo ja' estava practicamente certo, encontramos ainda um funcionario dos servicos de emergencia local que e' brasileiro e que estaria de servico ate' as 11 da noite. Desta maneira, fui trabalhar descansado, deixando a minha mae no Parkland com a sua propria teimosia...havia deixado de ser o "pai" mandao para ser o filho outra vez.

Minha mae voltou do hospital cerca de meia-noite. Os medicos me ligaram varias vezes e disseram que nao encontraram nenhuma razao para as suas dores abdominais. Ela estava com fome, mas nao quis comer. Parecia chateada e queria pouca conversa. E eu a deixei como ela queria.

Hoje a minha irma conversou com ela e ela revelou que os medicos disseram que o cancer ainda estava la', que nada havia mudado. Eu, pessoalmente, nao sei o que os medicos disseram, mas nao estou surpreso do cancer ainda esta' por la' pois o fato de nao estar mais aparente nao quer dizer que nao esteja presente. Mas a minha mae percebe tudo da maneira que ela quer, e, para ela, nao estar visivel tinha um significa maior que realmente tem.

1 comment:

  1. Oi Marcos,
    Acompanho daqui teu cuidado incansável com a Nilcéia. Sabe, cuidei da minha até o final embora a doença fosse diferente e também percebi que o que elas querem é nossa presença física por mais que tenhamos mil afazeres. Ela andou me telefonando estes dias passados, quem sabe até por estar deprimida e precisando apenas conversar mas estou com um quadro de alergia forte desde o final de julho, rouquidão na voz, muita tosse, não posso falar por muito tempo. No dia que atendi ao telefone expliquei como eu estava e ela percebeu o estado de minha voz, disse que me ligaria outro dia quando eu melhorasse mas senti que ficou decepcionada talvez por não ter encontrado na hora que ela precisasse falar, alguém do outro lado da linha para ouvi-la.

    Tua irmã fica preocupada mas sabemos que aqui no Brasil ela não teria como cuidar assim da tua mãe, tanto pelos recursos médicos quanto pela alimentação saudável que você está proporcionando para ela.

    Penso que muito que ela sente pode ser devido a uma depressão por estar longe como você bem disse do restante da familia e dos amigos mas ela precisa entender que basta uma pessoa para estar ao lado dela e lhe dar o amor que você está dando no momento, apenas isto!

    Beijos e fiquem bem!

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