Sunday, March 7, 2010

Descobrindo "..aquela doença..."

Na minha familia, cancer sempre foi um tabu. Nao se podia pronunciar em voz alta. Se alguem que conheciamos ficava doente de cancer, era um sussurro...uma sentenca morbida.

Em dezembro de 2009, depois de um tombo na porta do supermercado local, a minha mae comecou a se queixar de dores na costela...no local da queda. A principio, nao pude compreender bem a inconsistencia daquela dor, que em um dia lhe fazia chorar de dor, no outro lhe permitir sambar enquanto arrumava a casa ao som de Alcione e Jorge Aragao. Certamente, o dom do exagero da minha avo' havia passado geneticamente para a minha mae, pensei. Ate' que num certo dia, a dor pareceu mais forte que de costume. Tanto que cancelei o trabalho e a levei ao ER do Dallas parkland hospital, no centro da cidade (atualmente, vivo no Texas, EUA).
Passamos o dia esperando no corredor agitado daquele hospital, onde a minha mae tirou radiografias e tomou morfina para a tal dor insuportavel. No final da tarde, a medica apareceu com o resultado dos exames que havia feito na minha mae. "Costela quebrada", pensei. Mas ela me olhou bem seriamente e disse: "I think it's cancer" . E, derrepente, aquela doenca que nunca podiamos pronunciar dentro de casa, comecou a gritar dentro da minha mente num outro idioma. Eu pude apenas gemer um "are you sure?". E dei gracas a Deus que a minha mae nao entendia ingles. Como poderia lhe dizer algo assim?

Ela possivelmente ficaria internada para fazer mais testes e confirmar o que a medica estava supondo. E eu tinha sair daquele corredor, respirar e ouvir o que a minha mente estava gritando. Hilda e Lucilma estavam esperando ansiosamente la' fora e era a perfeita desculpa para deixar a minha mae ali', sozinha, por uns minutos.

Sai', chorei, abracei Hilda e Lucilma, cancelei o trabalho para o resto do dia, enxuguei as lagrimas e voltei para o corredor do ER. Ai' entao os medicos haviam decidido que os demais exames seriam feitos atraves de do ambulatorio do hospital e a minha mae voltaria para casa no mesmo dia.

So' eu sabia a verdade, a minha mae estava confusa e inocente. Eu nao tinha condicoes de compartilhar com ela as desconfiancas dos medicos do Parkland hospital. Esperaria ate' que eles tivessem certeza antes de contar-lhe. Mas nao pude evitar de contar aos meus irmaos, ha' milhares de kilometros de distancia. Eu nao podia manter aquela duvida dolorosa so' para mim!

Mas no dia da ultrasonografia, tive que fazer a traducao mais dificil da minha vida. Tive que dizer a minha mae o que os medicos achavam que ela tinha.

E assim comecou a minha jornada. Descobri que cancer doi na familia inteira, que desespera a todos, que descontrola tudo. Mas tambem descobri que posso fazer diferenca, que posso fazer a minha parte...descobri tambem que a falta de informacao e' um tumor extra que a minha familia inteira padecia. E descobri que posso desmistificar, posso ser pro-activo, posso cuidar, me alimentar e alimentar a minha mae melhor...descobri tanta coisa que devo partilhar, por isso criei esse blog. Para registrar a luta contra essa doenca que afeta a tanta gente, mas que poderia ser bem mais amena se todos falassem mais alto sobre o assunto, se partilhassem o que aprendem. E e' isso que me proponho com esse blog. Por favor, participe, compartilhe comigo receitas, medicamentos, atividades, experiencias, estorias, dicas, tratamentos...dietas...tudo.

2 comments:

  1. Realmente é uma doença terrível, mas que por mais impossível que seja, tem cura. Meu pai descobriu um câncer em nível 4 na bexiga em 2006 e foram 3 meses de internação e sofrimento para toda a minha família. Pau pai teve que retirar a bexiga e por outras complicações acabou retirando um dos rins. Além de outras complicações e foi parar na UTI e os médicos deram 48 horas de vida se não reagisse à medicação, tomou 38 bolsas de sangue e hoje é um homem saudável. Vive normalmente, come o que quer, e com roupa ninguem diz que não tem a bexiga e o rim. Acredite e tenha fé. Abraços. Aluana

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  2. Louvado seja o nome de Deus! Porque a fé tem todo um misticismo sabe, um peso, um tabu, como o nosso amigo Marco fala, tanto quanto o câncer, e outras doenças...carregamos o fardo pesado de um monte de paradigmas, e de repente, quando descobre uma doença como essa pensa: "ferrou...não rezo há uns 10 anos..." então não adianta ter fé... Mas esquecemos que a fé independente das nossas crenças, e o conceito de Deus que cada um tem também não interfere...a fé tem que ser em nós mesmos, em uma força maior que existe no universo, e que mantém o planeta flutuante (há 1000 anos atrás muitos seriam queimados por afirmar que a terra era redonda...)e por aí vai... Mas pensamos assim que "se a fé remove montanhas, e eu nunca vi ningém mover montanhas" então já era... e desacreditando a batalha começa a ser perdida...temos que ter fé sim! E acreditar sim, e é isso que o Marcão tá fazendo e a Ceinha também, e, confesso, conversar com o Marco me fez ver um outro lado da fé, nos meus 40 anos, não conhecia! Ceinha, Marco, amo vocês!

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